Numa sociedade de estrutura tribal, como era a do povo de Deus nos tempos dos juízes, muito raramente uma mulher chegava a exercer funções de projeção. Mas este foi o caso de Débora como lemos em Juízes, capítulos 4 e 5. Contudo, se Débora é uma feliz exceção, a maneira de ser e agir do povo não o é, pois lemos logo no começo que “os filhos de Israel fizeram o que era mau.” Para mudar a maldade rotineira, o vício escravizador ou o pecado costumeiro não será suficiente um líder qualquer. Apenas uma liderança excepcional pode operar mudança radical.


“Os filhos de Israel fizeram o que parecia mal aos olhos do Senhor.” (Juízes 4.1). E por isso, o Senhor os entregou nas mãos de Jabim, rei de Canaã. Até então as opressões vinham de fora, agora, porém, há uma insurreição dentro da Terra, partindo de Hazor no norte de Canaã e com Sísera como comandante do exército. É neste contexto que surge Débora, uma mulher adiante do seu tempo. Você já pensou em como estamos carentes de líderes assim? Que Deus nos abençoe, iluminando nossas mentes, abrindo nossos olhos, adestrando nossas mãos na escolha de nossas lideranças.

UMA MULHER COM ESPÍRITO DE LIDERANÇA

A liderança pode ser do tipo autocrática, paternal ou democrática. O melhor líder é o que sabe mesclar e dosar características dos tipos de liderança adaptando-as às necessidades do momento. Em Débora percebemos o exercício da arte da liderança, sem domínio tirânico, sem autoritarismo (Juízes 4). Débora exercia o papel de juíza (o povo vinha a ela em juízo), no entanto, seu título é “mulher profetisa”. Portadora da mensagem de libertação, Débora é constrangida a seguir para a batalha com Baraque, algo inusitado, mas ela não se omite, apenas se disponibiliza e vai. Ela era uma mulher sábia. Uma liderança servidora!

Servia ao assentar-se para arbitrar a resolução de disputas, independentemente da designação ou do título que lhe dessem. Servia ao acompanhar homens à guerra, uma atividade predominantemente masculina. Servia ao entender que acima de si, de seu conforto, estava a mão do Senhor operando para a libertação de seus contemporâneos. Estava respaldada pela autoridade Divina, motivada pela necessidade do seu povo e isso a fazia viver em disponibilidade.

UMA MULHER COM UMA MENSAGEM
Mensagens são sujeitas a distorções. Às vezes, pela falta de habilidade do mensageiro, outras, por sua desonestidade ou covardia. Não por acaso, na Grécia Antiga, Hermes, o mensageiro dos deuses era também identificado como o patrono dos ladrões e designado como enganador. Pode acontecer do mensageiro ser íntegro, mas não alcançar seu objetivo pela dificuldade de compreensão do receptor.

Débora era uma mulher, num mundo predominantemente masculino, com uma mensagem. A mensagem de Débora era uma ordem de Deus. Mesmo assim, quem daria crédito? O texto de Juízes 4, no entanto, dá a entender que Débora já havia construído uma reputação de fidelidade aos oráculos de Deus. Através de Débora, Deus prometia destruir os exércitos de Sísera, o poderoso comandante das forças de Jabim.
A promessa divina haveria de cumprir-se pelo empenho dos homens de Nafatali e Zebulon (duas das tribos do povo de Deus) liderados por Baraque. À transmissão fiel da mensagem, uma condição para seu cumprimento é imposta por Baraque:

“Se tu vieres comigo, eu irei, mas se não vieres comigo, também eu não marcharei!” (Juízes 4.8).
Débora atende. À ousadia de anunciar deve-se juntar a coragem de lutar! Débora sabia que embora aqueles homens fossem os instrumentos da guerra, a vitória seria dada por Deus, o mesmo Deus que a comissionara como mensageira!!

UMA MULHER COM CONSCIÊNCIA SOCIOCULTURAL
Baraque condicionou sua obediência à companhia de Débora. Talvez ele não se sentisse suficientemente confiante, corajoso e ousado. Com certeza via em Débora um reforço à sua autoridade, uma maneira de dizer ao povo que suas ações tinham origem em uma ordem Divina. Débora prometeu acompanhar Baraque, porém demonstrou ser alguém que conhecia a sociedade e a cultura em que estava inserida.


“Certamente irei contigo, porém não será tua a honra da jornada que empreenderes; pois à mão de uma mulher o Senhor entregará a Sísera.” (Juízes 4.9). Uma dificuldade nossa é entender que precisamos sair de nossas posições para atender aos “baraques”, para fortalecê-los, encorajá-los e autorizá-los. E isso não será alcançado entrincheirados nos púlpitos, gabinetes, escritórios, palcos, salas de aula, posições de liderança etc. Débora não se aferrou à posição de profetiza (ou juíza), mas se expôs numa batalha por amor ao seu povo. Pensando bem, não foi isto que de forma mais sublime, eficaz e definitiva, Jesus fez por amor a você e a mim?


“…Cristo Jesus, sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se, tornando-se servo semelhante aos homens. E humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Filipenses 2.6-8). Considere desapegar-se!

UMA MULHER QUE CONFIA
Sob a afirmação de Débora de que o Senhor iria conceder uma grande vitória a Israel, Baraque e seu dez mil homens saíram impetuosamente contra o exército cananeu (Juízes 4.14). A fé produz ousadia, convicção. Suscita força da fraqueza e conduz os crentes à vitória. “…pela fé (os antigos) conquistaram reinos, praticaram a justiça, alcançaram o cumprimento de promessas, fecharam a boca de leões,
…apagaram o poder do fogo e escaparam do fio da espada; da fraqueza tiraram força, tornaram-se poderosos na batalha e puseram em fuga exércitos estrangeiros.” (Hebreus 11.33,34).


“E o Senhor derrotou a Sísera.” (Juízes 4.15) Os cananeus foram tomados de pânico pela súbita investida do povo de Deus. E para ficar bem claro quem estava operando, uma tempestade fez o ribeiro de Quizom transbordar, forçando os inimigos a abandonarem seus carros atolados e fugirem a pé (Juízes 5.21).

Débora compôs e entoou um cântico atribuindo toda a glória da vitória exclusivamente a Deus.
É assim que devem ser as lideranças estabelecidas por Deus: confiantes (NELE), social e culturalmente conscientes, mensageiras fiéis e compreensíveis, dispostas a servir, adiante de seu tempo.
Que seja assim com as mulheres constituídas líderes por Deus em nosso tempo!

Pr. Aílton Sudário

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