II Timóteo 3.16,17; II Pedro 1.21

Referência: STAGG, Frank. Teologia del Nuevo Testamento. Casa Bautista de Publicaciones. Trad. Arnoldo Canclini. Buenos Aires, 1976.

A palavra Bíblia deriva de “Biblos”, um povoado da Fenícia que deu nome à planta do papiro. É a coleção de livros aceita pelos cristãos como Escrituras Sagradas.

Inicialmente esta coleção (Canon) era composta pelos rolos aprovados para leitura pública pelo cristianismo dos primeiros séculos, em distinção àqueles chamados apócrifos que só serviam para leitura privada.

Por volta do sec. IV a.D. a lista se fechou em torno dos livros que utilizamos hoje e que se divide em duas grandes partes ou Testamentos, o Antigo Testamento com 39 livros e o Novo Testamento com 27 livros.

Testamento é o pacto unilateral de Deus com os seres humanos, não é um contrato.

Nos contratos as duas partes se manifestam e se equivalem. Nos Testamentos bíblicos há um legado de oferecimento da vontade Divina ao pecador.Deus é quem determina a natureza, as bases, as exigências e as provisões dos pactos.

Aceitamos geralmente a ideia de que a Bíblia é a Palavra inspirada de Deus, mas…

O que é Inspiração?

Inspiração pode ser definida como a operação do Espírito de Deus impulsionando homens eleitos pelo próprio Deus a escrever o que Ele queria que escrevessem ao mesmo tempo em que impedia que escrevessem o que Ele não queria. 

Os autores do Novo Testamento ao se referirem ao Antigo Testamento manifestam categoricamente a sua inspiração: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça.” (II Timóteo 3.16).

Não deve nos passar despercebido que não há preocupação em discutir a forma da inspiração e sim em afirmar o seu propósito – “ensinar, redarguir, corrigir, instruir em justiça”.

A pressuposição básica é que a iniciativa é sempre de Deus e não dos seres humanos, mesmo os mais dedicados e zelosos no ensino e na transmissão das verdades Divinas:

“…porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.” (II Pedro 1.21).

Como Palavra inspirada, a Bíblia nos traz a revelação de Deus, mas…

O que é a revelação de Deus?

A Bíblia nos apresenta Deus como Deus da natureza (Salmo 19.1), Deus da História (Hebreus 1.3) e Deus que por própria iniciativa vem ao encontro do ser humano para curá-lo e salvá-lo (João 1.14).

Deus se revela por seus feitos e por meio da natureza:

“Porquanto o que de Deus se pode conhecer, […] Deus lhes manifestou; porque os atributos invisíveis de Deus, o seu eterno poder, a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens (isto é, aqueles que permanecem insensíveis à revelação natural de Deus) são, por isso, indesculpáveis.” (Romanos 1.19);

Além desta revelação natural, Deus também se revela especialmente por sua Palavra, como está registrada na Bíblia. Mas principal e definitivamente, Deus se revela através de Jesus Cristo. A epístola aos Hebreus, logo no seu início, fala de dessas duas revelações:

Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles.” (Hebreus 1.1-4).

A revelação de Deus é, portanto, a entrega de Deus, não um descobrimento humano e sim uma exposição de si que só o próprio Deus poderia fazer tornando-se tanto sujeito quanto objeto, ou seja, tanto revelando como sendo revelado.

A Bíblia é, no Antigo Testamento, o testemunho profético e no Novo Testamento, o testemunho apostólico dos poderosos feitos de Deus.

Ela é o meio escolhido para patentear à humanidade perdida e carente a revelação de Deus feita em Jesus Cristo. É a Palavra Escrita, as Escrituras Sagradas, a Revelação Especial.

O texto de Atos dos Apóstolos narra o encontro de Filipe com o ministro da rainha de Candace. Este lendo o testemunho profético – o livro do profeta Isaías. Aquele (Filipe) explicando e aplicando o testemunho apostólico (Atos 8.26-40).

Este Deus que pela sua palavra criou todas as coisas, que poderosamente tirou o seu povo do Egito, que é o Verbo feito carne e habitante entre nós, que estabeleceu sua Palavra sobre nossas vidas, deseja nos levar ao reconhecimento da…

Autoridade da Bíblia

É importante ver a autoridade bíblica em termos de natureza e propósito.Ela é basicamente a história do que Deus fez em Jesus Cristo para a salvação do ser humano.

É o kerigma, a proclamação do evangelho; é o didaché, o ensino que atende à exigência da graça de Deus.

Desprezar (no todo ou em parte) o que a Bíblia nos diz sobre Deus, o homem, o pecado e a salvação, os dons e as exigências divinas é desprezar sua autoridade. Por outro lado, buscar na Palavra coisas das quais ela não trata é violentar sua autoridade.

Apelar de maneira distorcida para a Bíblia, queimar etapas no que ela determina é, no texto de Frank Stagg, o mesmo que dizer “Senhor, Senhor” para pretender que se há cumprido com a vontade do Pai:

Não é toda pessoa que me chama de ‘Senhor, Senhor’ que entrará no Reino do Céu, mas somente quem faz a vontade do meu Pai, que está no céu.” (Mateus 7.21).

Os fariseus tinham um enorme apego ao estudo das Escrituras e, no entanto, foram os que mais fortemente rechaçaram Jesus. Faltava-lhes humildade e renúncia a uma maneira preconcebida de estudo.

O Concílio de Trento afirmou que as Escrituras são Spiritu Santo dictante, no entanto, seus participantes recusaram-se a reconhecer a suficiência da autoridade bíblica ao subordiná-la à sua tradição. Faltou-lhes coerência.

Para que precisamos da Bíblia?  

A finalidade da Bíblia

A finalidade da Bíblia se cumpre quando o ser humano é levado ao conhecimento real de Deus por meio da fé em Jesus Cristo e consequentemente submete-se a Ele como seu Senhor (João 20.30,31).

As Escrituras não são um fim em si mesmas, mas um testemunho d’Aquele em que há vida:“Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim.” (João 5.39).

O texto de Lucas 24.13-35 ilustra bem esta verdade. O Cristo ressurreto, ao caminhar com dois dos seus discípulos no caminho de Emaús, demonstra com clareza o propósito das Escrituras: “começando por Moisés e todos os profetas, explicava-lhes o que DELE se achava nas Escrituras” (v.27) – Testemunho profético.

O resultado da interpretação para aqueles dois homens foi que “se lhes abriram os olhos, e o reconheceram… E disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras?” (24.31,32).

Quando se confia na Bíblia, ela nos dirige à Jesus.Como? Adotando-se os…

Princípios básicos para o estudo da Bíblia

Em primeiro lugar, a Bíblia deve estar nas mãos de todos como um livro aberto, este é o princípio da acessibilidade.

Em segundo está a aplicabilidade – estudo com fé e entrega pessoal. “Aplica-te por inteiro ao texto, aplica o texto por inteiro a ti”.

Em terceiro está adevocionalidade crítica – é preciso ir ao texto com humildade, porém fazendo perguntas e não impondo respostas.

Em quarto lugar está a totalidade: estudo que considere sempre todo o conteúdo textual.

O quinto princípio é o da fraternidade ou koinonia: estudo com os irmãos, inclusive aproveitando os estudos de gerações passadas;

E o sexto princípio, direcionamento escatológico: toda a Bíblia está escrita com uma meta, a redenção plena.

Terminamos com…

Duas questões para reflexão

Se concordamos que a Bíblia é a palavra de Deus, inspirada, revelada e com autoridade sobre as nossas vidas, por que não nos empenhamos de maneira mais efetiva no seu estudo?

Se não concordamos porque ainda nos denominamos cristãos? Há sentido na fé que não abraça integralmente os princípios da Palavra?

Pr. Aílton Sudário

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