A carta dirigida a Filemom é a mais pessoal de todas as epístolas escritas pelo apóstolo Paulo. Nas epístolas pastorais, dirigido a indivíduos, o apóstolo discute a disciplina e várias doutrinas teológicas e eclesiásticas na forma prática das relações fraternas, porém, a carta a Filemom, foi dirigida a um simples membro da igreja e trata unicamente de um problema doméstico – (v.1-2) “Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus, e o irmão Timóteo, a você, Filemom, nosso amado cooperador, à irmã Áfia, a Arquipo, nosso companheiro de lutas, e à igreja que se reúne com você em sua casa.”
Sendo uma mensagem particular, Paulo revela a nobreza do seu espírito cristão e como é importante o relacionamento pessoal, o conhecer uns aos outros em sua intimidade fraterna que, resulta na liberdade cristã – (v.7) “Seu amor me tem dado grande alegria e consolação, porque você, irmão, tem reanimado o coração dos santos.” Entre as numerosas pessoas de todas as classes sociais que visitaram o apóstolo Paulo na prisão em Roma, achava-se um jovem chamado Onésimo – (v.10). Seu nome significa “proveitoso” ou “útil”, designado à classe de nomes geralmente reservados naquele tempo a escravos. Ele era da casa de Filemom, este, amigo de Paulo, e possivelmente membro da Igreja de Colossos. Acredita-se que Paulo havia evangelizado Onésimo quando este o visitava na prisão. Embora preso, Paulo transmitia a verdadeira liberdade aos que se encontravam presos e acorrentados pela ideologia cultural humana. No contexto, nota-se que Onésimo tinha fugido da casa de Filemom, possivelmente levando algum dinheiro ou outros objetos de valor. Para Paulo, com certeza, Onésimo cometera um grande delito ao fugir do seu senhor. Porém, entendendo que a conduta de uma pessoa regenerada deve cumprir uma ética de serviços e lealdade da época, ele orienta Onésimo a retornar à casa de seu senhor. Tendo em vista que este conselho foi compartilhado também com algumas igrejas, não seria diferente nesta situação – (Ef 6.5) “Escravos, obedeçam a seus senhores terrenos com respeito e temor, com sinceridade de coração, como a Cristo.” Assim, Paulo passou às mãos de Onésimo, uma carta para entregar a Filemom com objetivo de reatar o relacionamento entre senhor e servo e convencê-los que agora, são irmãos em Cristo e que deveriam cumprir os seus papeis com dignidade e amor (vs.15,16).
A lição prática desta carta pessoal, não está baseada apenas na história de seus personagens, mas, evidentemente nas ações cristãs que foram trabalhadas. Paulo agiu como intermediário entre Filemom e Onésimo. Seu papel foi reaproximá-los para o perdão, não em um sentido meramente profissional, mas como um caráter cristão deve proceder – (v.10) “apelo em favor de meu filho Onésimo, que gerei enquanto estava preso.” Onésimo representa aqui a característica do ofensor, aquele que agiu de forma a provocar possíveis danos na vida de seu próximo (v.18), muito embora a concepção da relação senhor e escravo na época, tivesse uma conotação completamente diferente dos dias atuais, ficando difícil tratar valor de juízo em tempos bárbaros. Por isso, Onésimo representa o ofensor, ainda que a atitude dele tenha acontecido antes de sua conversão, mas agora, ele retorna pelo amor gracioso – (v.15) “Talvez ele tenha sido separado de você por algum tempo, para que você o tivesse de volta para sempre, não mais como escravo, mas, acima de escravo, como irmão amado.” Filemom é convocado a mostrar o amor gracioso em seu caráter cristão e, como alguém que já conhecia a Cristo, deveria colocar em prática o verdadeiro perdão (v.17). Esta convocação deveria ser comum a todos nós, isto é, praticar o perdão em favor dos que nos ofendem, pois este foi o ensinamento do Senhor Jesus (Mt 5.44,45).
É possível entender nas entrelinhas pelos conselhos elevados da vida cristã, que esta história tenha terminado bem, em que ambos tenham-se reconciliado um com o outro. Diante das crises, nada mais transformador, senão o amor de Cristo para perdoar e reconciliar a convivência fraterna. Com certeza, como eles já experimentaram, todos nós, também, estaremos diante do verdadeiro reconciliador de vidas – Cristo Jesus.
Pr. Sandro Ferreira
Presidente da CBM e pastor da PIB Cel Fabriciano
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